sábado, 1 de setembro de 2012

MUSHIN


O termo Mushin é Composto por dois Kanji:
MU = nada, nenhum, nulo, vazio.
SHIN = coração, mente, espírito.

Mushin literalmente significa inocência. Refere-se ao estado de espírito onde a pessoa não assume nenhuma postura, mas está aberto e preparado para qualquer coisa e/ou situação, o que é vital para o combate real.
Mushin é um estado de espírito alcançado através de treinamento duro e estratégico. A prática repetitiva aliada a conceitos importantes de combate tem o intuito de criar uma memória muscular fazendo com que os movimentos físicos deixem de exigir qualquer pensamento para comanda-los.
É como um músico talentoso que já não lê a partitura da música para toca-la, ele apenas fecha os olhos e toca com o coração, e com o espírito nascido somente através de intermináveis horas de diligência, a prática metódica e mecânica – ele apenas deixa fluir (Nagare). Ele toca por “sentir”, não pelo pensamento. Da mesma forma que um artista marcial muito habilidoso apenas “sente” o seu espaço, os movimentos de seus oponentes e se conecta diretamente a esse sentimento que lhe permite lutar sem a necessidade do pensamento.
Mushin não é uma meditação, nem pode ser alcançado através da meditação, contudo ela pode ser uma ferramenta para nos auxiliar a encontrar estados mais sutis da nossa consciência, e a partir dai, desenvolver uma prática mais centrada. Note que, Mushin também não pode ser alcançado apenas através da prática de artes marciais. Mushin ocorre quando Shinbu (Shin = verdadeiro, bu = marcial) e Junbu (Jun = puro, bu = marcial) se alinham perfeitamente. Mu (Mukusu) também significa perder algo e isso pode ser encarado como, por exemplo, perder os maus hábitos, perder as restrições, inibições, medos, etc.
Inclusive uma frase que ouvimos muitas vezes que é “Sem Medo”, também é parte do significado de Mushin, e pode significar: a partir do pouco, pode-se saber muito. Isso significa exatamente o que nosso Kihon salienta, uma quantidade muito pequena de movimentos mecânicos pode ser utilizada em infinitas formas (como as notas musicais – 8 notas = infinitas possibilidades), isso significa que até as coisas mais complexas podem ser encontradas nas coisas mais básicas e simples, depende apenas do modo como vemos e agimos nas circunstancias que nos são impostas na prática marcial, assim como é na vida. Como Musashi dizia, “O caminho pode ser encontrado em todas as coisas”. Eu creio que, todas as coisas podem ser encontradas no “caminho”.
Uma história que gosto muito ilustra bem sobre este conceito.
“Um dia, um samurai, grande Mestre de sabre quis obter o verdadeiro espírito da esgrima. Era durante a época Tokugawa. À meia noite, foi a um santuário de Kamakura, subiu os numerosos degraus que levam até lá e rendeu homenagem ao Deus local, Hachinam. Hachinam, no Japão, é um grande Bodhisattva que se tornou o protetor do Budo. O Samurai rendeu-lhe homenagem. Ao descer os degraus, a meia noite, ele sentiu, debaixo de uma grande árvore, a presença de um monstro em frente dele. Por intuição, ele desembainhou o seu sabre e num instante matou o monstro. O sangue jorrou e derramou-se pelo chão. Ele matou-o inconscientemente.
O Bodhisattva Hachinam não lhe deu o segredo do Budo. Mas graças a esta experiência, no caminho de regresso, ele compreendeu-o. A intuição e a acção devem surgir simultâneamente. Não pode haver pensamento na prática do Budo. Não há um só segundo para pensar. Quando agimos, a intensão e a ação devem ser simultâneos. Se dissermos : ” O monstro está ali, como matá-lo? “, se hesitamos, só o cérebro frontal entra em ação. Ora, o cérebro Thalamus (cérebro profundo) e ação devem coincidir, no mesmo instante, idênticos.
Assim como o reflexo da Lua sobre um curso d’água, não fica imóvel, se bem que a Lua não se mexa. É a consciência Hishiryo.”

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